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Avanço da inteligência artificial vai dominar discussões sobre ética médica e pesquisas científicas

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Especialista alerta para necessidade de preservar a intimidade e os dados pessoais. Nada pode ter primazia sobre o interesse e o bem-estar dos pacientes, diz

A capacidade quase ilimitada de processamento de dados, característica das plataformas de inteligência artificial em desenvolvimento ao redor do mundo, vai transformar de forma radical a prática médica em um horizonte de tempo não muito distante. Para garantir que o impacto dessa mudança seja benéfico para a sociedade, é fundamental que médicos, legisladores, cientistas e governantes discutam formas de regulamentação e encontrem meios de preparar as próximas gerações para lidarem da melhor forma com a novidade. “A inteligência artificial terá um impacto gigantesco na medicina. Precisamos estudar o tema desde já e nos prepararmos de forma intensa para enfrentar dilemas éticos que já estão postos diante de nós”, disse o professor português Rui Nunes, presidente da International Chair in Bioethics (ICB), durante o Momento da Ética, promovido pelo Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (CRM-SC).

Atualmente já há aplicações de inteligência artificial em algumas áreas da medicina, como a radiologia. Mas o cenário futuro indica a possibilidade de avanço em diversas outras frentes, o que desperta o interesse da comunidade científica para o tema. O tradicional New England Journal of Medicine, por exemplo, vai ter uma área específica para a cobertura do tema.

Por enquanto é difícil delimitar o potencial de avanço da tecnologia. O professor Rui Nunes lembra que até pouco tempo atrás ninguém era capaz de processar e chegar a conclusões lógicas a partir dos bilhões de dados individuais armazenados em diferentes plataformas. Com a inteligência artificial, isso mudou – e é preciso discutir como a sociedade vai usar esse novo conhecimento. Ainda mais preocupante, na opinião do professor, é a questão do material biológico coletado para pesquisas ou mesmo exames de rotina. Genes, sangue e outros produtos orgânicos carregam informações valiosas que precisam ser protegidas. “A intimidade das pessoas é um direito constitucional em diversos países e deve ser preservada”.

Apesar da preocupação, Nunes admite que o avanço da inteligência artificial é um caminho sem volta. O essencial é que os países invistam para preparar os cidadãos para encarar essa nova realidade. “Acredito que o assunto deveria ser estudado desde o ensino básico – e por óbvio também nas escolas médicas”. Hoje, acrescenta, já há um ponto que merece atenção. “Quem será responsabilizado pelo mau desfecho de um procedimento feito a partir da indicação de uma inteligência artificial?”

Essencial, diz Nunes, é ter em mente a importância da ética para o desenvolvimento humano e da ciência. Ele observa que a prática médica é guiada por severas normas de conduta que garantem o melhor atendimento ao paciente. Esses mesmos parâmetros devem ser seguidos quando se fala em pesquisas com humanos. “Os médicos têm uma ética milenar e muitas vezes se deparam com preceitos menos severos quando o assunto é pesquisa. Nada pode ter primazia sobre o interesse e o bem-estar dos pacientes”.

 

Assista à íntegra do Momento da Ética desse mês clicando no link abaixo:

 

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