CRMSC

  Espaço do Médico

Futuro da assistência Médica

Publicado em:

Anastácio Kotzias Neto
Médico Ortopedista – Conselheiro do CRM e Representante de SC no Conselho Federal de Medicina (CFM)

O ensino médico vem se deteriorando de maneira progressiva há tempos e as causas são conhecidas. A principal delas é a flexibilização dos critérios exigidos para a abertura de novos cursos, definidos pelos responsáveis dos Ministérios da Saúde e da Educação, que hoje permitem a abertura de escolas de Medicina em locais onde não existe a mínima infraestrutura por falta de insumos e de professores capacitados, com a complacência de Conselhos Universitários, e finalmente, com a vitimização dos alunos a subtrair programas e tempo curriculares.
Os representantes das diversas áreas da saúde ultrapassam as prerrogativas de suas respectivas leis e em decisões monocráticas expandem sua atuação em busca de mercado sem a devida formação e qualificação.
A tese de que o mercado irá regular a oferta e demanda na avaliação dos egressos e, por consequência, as escolas não se sustenta. Médicos serão formados sem aptidão e causarão dano aos pacientes. Ao mesmo tempo, serão também vítimas de um sistema concebido como negócio e não como um bem aos que dele necessitam.
A decisão do Senado de aprovar a Medida Provisória do Mais Médicos sem a exigência da revalidação do diploma permitirá a atuação de milhares de médicos sem qualificação colocando em risco a saúde da população. Pensar que qualquer atendimento é melhor do que sua falta é impor má assistência e caracterizar cidadãos em castas. Tal postura mostra mais uma vez a capitulação ou a conivência dos nossos representantes aos interesses econômicos. Vale lembrar que emergências nem sempre permitem a escolha de hospitais e médicos qualificados. Os atendimentos de urgência disporão destes profissionais e encaminharão os doentes aos serviços regulados pelo sistema que os acolheu.
A pandemia não despertou na população o reconhecimento pelo trabalho e dedicação do médico – nem sedimentou a percepção de que é necessário tê-los bem formados e disponíveis. As entidades médicas parecem ser as únicas a se preocuparem com este problema crescente.
Somos corporativos sim. Mas isso porque é essencial atuarmos para a manutenção da boa prática médica na assistência à população e do bom prestígio da profissão. Cabe à sociedade decidir se aceita conviver com a deterioração dessa atividade essencial ou se mobiliza contra essa progressiva e crescente deterioração do ensino médico e do conceito de seus Médicos. O produto desta complacência causa dano e sofrimento – e causará muito mais.

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