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CRMSC

Artigo: O verdadeiro Médico superará?

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Confira o Artigo do corregedor do CRM-SC, Anastácio Kotzias Neto, publicado na edição do dia 16/04/25, do jornal Notícias do Dia.

A prática da Medicina na atualidade no Brasil desencanta os médicos que por vocação, renúncia e muita dedicação buscam exercê-la. Numa análise objetiva não é possível determinar um só motivo para tal situação, são muitos, mas considero como relevantes termos em conta que a “Saúde” é um mercado muito lucrativo, nunca entra em crise, e sempre terá demanda (doentes).

O ensino, ofertado em faculdades em qualquer esquina, transformou a formação médica mesmo sem qualidade, estrutura adequada, e desrespeitando as normas, em mercado bilionário.

Empresas de TI substituíram o raciocínio clínico por IA a desumanizar a prática médica. Hoje temos 491 faculdades de Medicina e até o final do ano serão 756, em Santa Catarina o incremento foi de 129% (1,89 para 3,4 médicos/1000 habitantes). Hoje no Brasil somos 625 mil médicos, 2,95/1000, e em 2030 um milhão.

Hospitais passaram a otimizar o leito e não o desfecho clínico considerando a saúde unicamente como produto. Laboratórios e empresas lucraram com a explosão da solicitação de exames na medicina defensiva que se instalou.

A judicialização da saúde explorada por escritórios advocatícios que muito lucraram com o que denominam de erro médico, que ocupa manchete recente na mídia sobre mais de 74 mil novas ações em 2024 mostrando incremento de 500%.

O Código de Defesa do Consumidor transformou o paciente em cliente. As seguradoras obrigaram os profissionais a contratarem seguros de altíssimo custo temerosos por enfrentar este novo modelo.

A mídia transformou o médico em vilão, impactando no respeito à profissão, desacreditou o conhecimento científico e o especialista, e os políticos se associaram a ela culpando os médicos pela sua própria incompetência e como consequência o cidadão aplaudiu e realmente acreditou que estava no controle, no seu direito de decidir, naquele jargão: eu pago eu decido!

Aplaudiram e aceitaram a medicina de formação rápida sem qualidade, e processaram ainda mais. Agradeceram a abertura de novas faculdades e comemoraram a entrada de planos de saúde mais baratos, resultando em um sistema que trata o paciente como um número, e a saúde unicamente como um produto.

Exemplo emblemático é o programa Mais Médicos que oferece atendimento tecnicamente lamentável aos mais humildes que pelo baixo nível cultural e submissão, se contentam em ter acesso a atendimento de última categoria. O programa não interiorizou o médico, substituiu o concursado da prefeitura pelo empregado no governo federal; grande parcela deles atua nos centros maiores.

Os profissionais que nasceram nesta era de Medicina mercantilizada, não notam que se trata de uma distorção, consideram uma maneira de como o sistema funciona.

Antes os formandos buscavam melhor preparo nas residências médicas, os atuais esquecem que saem de escolas médicas que produzem milhares de ingênuos, nem todos, procedentes de centros menores, incapazes de resolver sequer casos de média complexidade devido a formação de baixa qualidade, com professores sem formação docente adequada que pensam capacitar jovens incautos que terão a responsabilidade de cuidar da vida de pessoas crédulas e de boa-fé. Acrescenta-se a isto a preferência por cursos relâmpagos de final de semana que simulam sensação de saber.

O paciente espera do médico no momento de fragilidade alguém que o acolha e oferte o que ele gostaria de receber para si, que o escute, esteja junto e que lhe acalme a angústia, o sofrimento e o console quando nada mais houver a oferecer, este é o Médico verdadeiro, triste a sensação de que resta a estes jovens produtos da formação precária e desenfreada com a justificativa de resolver a desordenada realidade da saúde pública brasileira: a adaptação.

Ele (paciente) não percebe a queda da última barreira na defesa da valorização da sua vida àqueles abnegados que brigam por infraestrutura mínima, melhores insumos e medicação necessária para a devida assistência aos seus pacientes, mas a culpa ficou para a desumanização do atendimento médico e a enganosa rotulação de desonestidade generalizada.

Os dois Médicos: o verdadeiro anacrônico, e o atual, devem lembrar que o exercício da Medicina não é uma corrida de cem metros é uma maratona de dedicação, solidariedade e respeito ao próximo.

Tempos difíceis sempre existem e passam, o bom exemplo e a boa prática sobreviverão aos que acreditam na regulação do mercado, na má gestão e na política dissimulada. Pena o custo que já é muito alto e todos pagaremos.

Para acessar o Artigo publicado no portal do Notícias do Dia – Clique Aqui

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