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Ensino médico: há tempo para corrigir equívocos de soluções simplistas

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Por Eduardo Porto Ribeiro – Presidente do CRM-SC

Pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM) comprova mais uma vez o que já devia ser sabido de todos: a abertura indiscriminada de cursos e vagas nas escolas médicas não é a solução adequada para garantir a presença de profissionais em diferentes partes do País – e principalmente naqueles locais chamados de “difícil provimento”. Os dados, aliás, mostram justamente o contrário: há intensa “migração” de profissionais recém formados para os grandes centros.

Desde 2018 até 2021, um de cada cinco formados no País optou pelo registro em um CRM de estado diferente daquele onde cursou a faculdade. São Paulo é o destino preferido dos novos médicos. No estado foram inscritos 16.773 médicos – quase 4 mil a mais do que os 12.812 formados. Acre, Tocantins e Rondônia perderam um de cada dois egressos de suas instituições de ensino superior.

Santa Catarina é polo de imigração de formandos, tradicionalmente de escolas gaúchas, mas cada vez mais de outros estados. E o estudo não leva em consideração outro problema bastante conhecido: a migração de profissionais dentro do estado. Hoje, por exemplo, um de cada quatro médicos catarinenses está em Florianópolis.

Os números reforçam mais uma vez a ideia de que soluções simplórias e planejadas de forma tempestiva são inadequadas para resolver problemas complexos. Foi esse o caso da ampliação sem controle da oferta de cursos.

Em vez de levar médicos a todas as regiões, no longo prazo a decisão vai comprometer a qualidade no atendimento à população. Hoje, Santa Catarina já tem a mesma relação de número de médicos por habitante que países como Inglaterra e Estados Unidos. A taxa de crescimento no volume de profissionais é cinco vezes maior do que o da população catarinense, o que vai provocar, em poucos anos, o desequilíbrio entre a oferta de profissionais e a demanda, o que por certo comprometerá a qualidade nos serviços prestados à comunidade.

Ainda mais grave, quando se fala em oferta de cursos e vagas, é a pequena preocupação do “mercado” com a qualidade dos cursos. Há hoje em todo o País uma infinidade de instituições que não cumprem parâmetros mínimos da infraestrutura considerada essencial para a boa formação médica. É urgente que o Governo e a sociedade atentem para esse fato e tomem medidas enérgicas para sanar o problema. A pesquisa do CFM, com seus resultados claros e inquestionáveis, mostra que é hora de deixar de lado a ideia simplista de que basta multiplicar os graduados e que é chegada a hora de analisar a questão com calma e bom senso. Em vez de formar mais e mais médicos, é hora de preparar melhor os médicos e implementar ações efetivas que tornem as diferentes regiões do País atrativas.

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